A visão do alto que transforma o campo

Aerolevantamento com drones ajuda produtores a economizar insumos e aumentar a precisão no manejo agrícola

A visão do alto que transforma o campo

Nos últimos anos, a agricultura brasileira tem vivido uma verdadeira revolução, que começa muito antes do plantio e vai além da colheita. Com drones sobrevoando lavouras e sensores captando dados precisos do solo, o aerolevantamento surge como uma das ferramentas promissoras para a eficiência no campo. Mas, afinal, o que é essa técnica e como ela pode ajudar o produtor rural?

A resposta está no céu — ou melhor, nos drones. Aerolevantamento é o nome dado à coleta de dados geoespaciais feita por equipamentos aéreos, como drones equipados com câmeras e sensores. Essas imagens são processadas para criar mapas detalhados e modelos tridimensionais das áreas analisadas. O resultado são informações valiosas que ajudam na tomada de decisão, desde o planejamento do plantio até o uso racional de insumos.

Quem tem aplicado isso na prática é a R2D Aerolevantamento, empresa goiana que começou com um sonho, um drone seminovo e a vontade de dois amigos de reinventar a vida profissional. Um deles é Rogério Sales de Andrade, geógrafo e especialista em geoprocessamento. Ao lado do sócio Romulo Rocha de Assis, da área de tecnologia, ele decidiu investir no que parecia ser apenas uma ideia ousada. “Nós estávamos em um período complicado financeiramente e decidimos que precisávamos inovar para poder sobreviver”, conta Rogério.

Com o primeiro equipamento comprado em 2018, a dupla começou mapeando trechos de rodovia e, logo, recebeu o primeiro trabalho oficial: um levantamento na PCH São Bento, em Goiás. “Como eu havia trabalhado com licenciamento ambiental, era técnico na área de geoprocessamento, eu tinha muitos contatos e sabia da importância desse tipo de trabalho”, conta Rogério.

Alta precisão, economia e confiança

O trabalho da R2D vai além das imagens bonitas captadas do céu. Os principais serviços envolvem mapeamento de áreas, topografia com pontos de controle, vídeos técnicos para licenciamento ambiental, vistorias virtuais, vídeos institucionais e fotografias panorâmicas. E, embora o setor elétrico seja hoje o maior cliente da empresa, Rogério aposta alto no potencial da agricultura.

“Já fizemos aerolevantamento de 12 mil hectares para uma usina de álcool em Ipameri (GO). Com os dados em mãos, o proprietário identificou que poderia economizar insumos e renegociar os arrendamentos com base na área real de plantio, que é diferente da área bruta fornecida pela topografia tradicional”, explica. Na prática, isso significa mais precisão, menos desperdício e maior rentabilidade.

O processo do aerolevantamento é técnico, mas não é complicado de entender. Primeiro, o voo é planejado com base na área a ser mapeada. Depois, o drone realiza o voo de forma autônoma, captando imagens e dados. Esses dados são processados com softwares especializados que geram ortofotos, curvas de nível e modelos 3D. O cliente recebe os arquivos em formato digital, além de uma cópia em pen drive personalizado.

A empresa, que já atuou em diversos estados como Goiás, Tocantins, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro, também recebeu consultas para trabalhos no Paraguai e até no Iraque. Embora ainda não tenha atuado fora do Brasil, a R2D vê oportunidades crescentes — especialmente no campo.

Demanda crescente no agro

Apesar do potencial, Rogério acredita que o uso do aerolevantamento na agricultura ainda é limitado. “É uma demanda enorme, mas que está adormecida. Falta ao produtor a consciência de que pode economizar e ser mais eficiente usando essas ferramentas”, afirma. Segundo ele, setores como engenharia e energia já avançaram mais, impulsionados por exigências legais. No agro, ainda é preciso mostrar os benefícios na prática.

Os planos da empresa agora envolvem fortalecer a atuação no agronegócio e investir em novos equipamentos. A próxima aquisição deve incluir uma câmera termal e sensor infravermelho, o que permitirá serviços ainda mais especializados, como monitoramento de estresse hídrico nas plantas ou inspeções em usinas fotovoltaicas.

Na avaliação de Rogério, o aerolevantamento representa uma evolução dos métodos tradicionais, e não uma substituição. “Não diria que é uma nova profissão do agro, mas sim um aprimoramento. É a topografia ganhando asas, com muito mais precisão e velocidade.”

E a tecnologia utilizada pela R2D acompanha esse avanço. A empresa trabalha com geoprocessamento avançado, fotogrametria e técnicas de edição de vídeo. O sensor LIDAR, por exemplo, é usado para áreas de vegetação densa, sendo ideal para engenharia rodoviária. No campo, sensores ópticos e térmicos são mais utilizados para captar dados visuais e ambientais das lavouras.

Tecnologia acessível e retorno garantido

A ideia de que tecnologia de ponta é inacessível ao pequeno ou médio produtor precisa ser superada. Hoje, com o avanço dos drones e softwares, o aerolevantamento tornou-se uma solução viável e eficiente. Ao mostrar com precisão onde está a área efetiva de plantio, por exemplo, o produtor pode aplicar insumos apenas onde é realmente necessário, o que reduz custos e impactos ambientais.

Outro ganho está na gestão. Com mapas digitais detalhados, o agricultor consegue planejar melhor a irrigação, o controle de pragas e a colheita. Além disso, ao documentar sua área com dados técnicos, o produtor ganha mais argumentos em negociações de arrendamento, certificações ambientais e até financiamentos.

Rogério reforça que, ao contrário do que muitos pensam, o investimento se paga rápido. “No Agro, se faz necessário um convencimento do produtor de que ele terá uma economia nos insumos e uma maior produtividade por hectare, já que a área efetiva plantada geralmente não é aquela que a topografia lhe deu”, explica.

Futuro promissor

O cenário para os próximos anos é promissor. Com a chegada de novas tecnologias, como sensores termais e integração com inteligência artificial, o aerolevantamento deve ganhar ainda mais espaço nas propriedades rurais. O produtor que já investe em agricultura de precisão verá nos drones uma extensão natural do seu manejo estratégico.

Além disso, a exigência por rastreabilidade, eficiência e sustentabilidade na produção de alimentos tende a crescer — tanto no Brasil quanto no exterior. E, nesse contexto, quem tiver dados técnicos bem estruturados estará à frente. “Acreditamos que o futuro do agro está no alto. Literalmente”, conclui Rogério.

Seja para medir, planejar ou tomar decisões, o aerolevantamento oferece uma nova forma de enxergar o campo. Com precisão milimétrica, ajuda a transformar desafios em oportunidades — e hectares em produtividade.

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