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Como os incêndios afetam a saúde e a produtividade do Solo
Diante da pior seca dos últimos 70 anos, o Brasil enfrenta um aumento expressivo de focos de incêndio em 2024, com mais de 200 mil ocorrências registradas até o dia 22 de setembro, um dos piores índices da última década, segundo informações do programa BD Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Na comparação com o mesmo período de 2023, o número de queimadas quase dobrou. Esse cenário alarmante têm impactado profundamente a sociedade, pois prejudica a saúde da população, a produção de alimentos, a qualidade do ar e a economia.
Mas não é só isso. Causa a destruição imediata da vegetação e da biodiversidade e também traz consequências graves e duradouras para o solo nas áreas rurais, ameaçando a produtividade futura das lavouras e a qualidade das pastagens.
Segundo a bióloga e engenheira agrônoma Rosana Castro, sócia proprietária da Solocria Laboratório Agropecuário, os incêndios agem de maneira devastadora sobre o solo, destruindo a matéria orgânica essencial para a fertilidade e eliminando micro-organismos vitais.
“O solo tem a parte química, a parte física e a parte biológica. Quando você queima o solo, o fogo destrói tudo, mas a parte biológica é uma das mais atingidas e das mais difíceis de se recuperar”.
Em áreas de agricultura, isso reduz significativamente a capacidade do solo de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento das plantas. E no caso da pecuária, compromete a regeneração de pastagens, resultando em solos compactados e mais suscetíveis à erosão, o que dificulta a criação de gado.
E esses danos não são apenas de curto prazo, eles podem perdurar por muitos anos, exigindo um manejo cuidadoso para restaurar as propriedades produtivas do solo.
“A microbiologia, que é um dos elementos que segura a fertilidade do solo, vai estar totalmente morta e para recuperar não é de um dia para o outro, são anos e anos”, explica Rosana.
Principais danos causados pelo fogo ao solo
A importância da análise de solo para a recuperação pós-incêndio
Para reverter os danos causados pelo fogo, a análise de solo é fundamental. Ela permite aos agricultores e pecuaristas entenderem a extensão da degradação e determinarem as práticas corretivas necessárias, como a aplicação de fertilizantes e a correção do pH do solo.
No entanto, é importante aguardar a primeira chuva antes de realizar a análise. Isso porque, em um primeiro momento, as cinzas depositadas podem mascarar os resultados, fornecendo uma falsa impressão de nutrientes presentes. Após a chuva é possível ter uma visão real da condição do solo, o que torna a análise mais precisa.
A técnica fornece informações detalhadas sobre a composição química, física e biológica do solo, permitindo aos especialistas identificar quais nutrientes foram perdidos durante o incêndio e o nível de degradação da estrutura do solo. Com essas informações, é possível desenvolver um plano de recuperação adequado.
“A nossa visualização é capaz de nos mostrar apenas dados de natureza qualitativa. Para quantificar, ou termos dados para planejar o processo de recuperação é preciso a análise de solo”, destacou o engenheiro agrônomo, Orlando Cavalcante, um dos fundadores da Solocria.
“Uma das estratégias mais eficazes para restaurar a saúde do solo após eventos devastadores como os incêndios é a adubação verde”, destaca Rosana Castro.
A técnica envolve o cultivo de plantas específicas com o objetivo de melhorar a qualidade do solo, recuperando sua capacidade produtiva e promovendo um ciclo mais sustentável.
A adubação verde consiste em plantar espécies chamadas de “adubos verdes”, como leguminosas e gramíneas. Essas plantas são cultivadas temporariamente, e, quando alcançam o ponto ideal de crescimento, são cortadas e incorporadas ao solo.
Seus restos vegetais enriquecem o solo com matéria orgânica e nutrientes, auxiliando na recuperação das áreas degradadas pelas queimadas.
“A adubação verde é uma das principais práticas de recuperação e pode ser um processo caro, mas vale a pena e é melhor que a desertificação”, comenta a bióloga e engenheira agrônoma.
Ela também destaca outras técnicas indicadas para a recuperação do solo, como a calagem, a adubação orgânica, o reflorestamento e a rotação de culturas.
Entenda melhor cada uma dessas técnicas:
Análise de solo
A primeira etapa é realizar uma análise detalhada do solo para entender a extensão dos danos causados pelo fogo, como a perda de nutrientes e a alteração da estrutura do solo. A análise orienta as práticas de recuperação necessárias.
Correção da acidez (Calagem)
O fogo pode acidificar o solo, o que dificulta a absorção de nutrientes pelas plantas. A aplicação de calcário ajuda a neutralizar a acidez e melhorar a disponibilidade de nutrientes.
Adubação orgânica
A adição de matéria orgânica, como esterco, compostos ou resíduos vegetais, é essencial para repor nutrientes perdidos e melhorar a estrutura do solo. A matéria orgânica também aumenta a retenção de água e promove a atividade microbiana.
Adubação verde
O plantio de leguminosas ou outras culturas de cobertura é uma técnica eficiente para restaurar a fertilidade do solo. Essas plantas ajudam a fixar o nitrogênio atmosférico, além de prevenir a erosão e melhorar a qualidade da matéria orgânica no solo.
Reflorestamento
Em áreas onde o solo foi severamente degradado, o reflorestamento com espécies nativas pode ser uma alternativa a longo prazo. Árvores e arbustos ajudam a restaurar a estrutura do solo, aumentam a retenção de água e promovem a biodiversidade.
Rotação de culturas
A rotação de culturas é uma técnica que visa alternar o plantio de diferentes culturas no mesmo local. Isso contribui para a recuperação de nutrientes e previne a exaustão do solo, além de ajudar a manter a qualidade biológica do solo após incêndios.
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