“O solo sustenta a vida”

“O solo sustenta a vida”

Para pesquisador da Embrapa Solos, a construção de um plano nacional é essencial para enfrentar os principais desafios da conservação do solo e atender as particularidades de cada região do país

Neste dia 15 de abril, é celebrado o Dia Nacional da Conservação do Solo, uma data importante para refletirmos sobre o papel fundamental desse recurso na agricultura e na pecuária, para a manutenção da biodiversidade e a proteção dos recursos hídricos.

Ao longo das últimas décadas, houve um crescente reconhecimento da relevância do solo para o sucesso dessas atividades, o que tem impulsionado um movimento de valorização da preservação e recuperação de áreas.

Entretanto, a percepção sobre a importância do solo ainda é bastante variada no Brasil, na opinião do pesquisador da Embrapa Solos, Aluisio Granato de Andrade.

“Muitos agricultores já têm essa visão da conservação do solo, do manejo conservacionista. Mas isso depende muito da região do país, onde a tecnologia já está mais acessível”, disse o pesquisador.

Em entrevista ao Blog da Solocria, Andrade falou sobre a importância do solo, quais os principais desafios nessa área e o que deve ser feito para difundir melhor o uso de práticas como a análise de solo.

“Faltam campanhas de divulgação da importância dessa análise. Ao mesmo tempo campanhas com incentivos, os próprios incentivos governamentais para que o produtor lance mão dessa informação”, destacou.

“Muitas vezes o agricultor está jogando dinheiro fora quando faz a adubação sem a análise de solo, as vezes colocando insumos que o solo não necessita ou de forma inadequada”, complementou ele.

Para o pesquisador, os principais desafios para a conservação do solo podem ser organizados em três eixos principais: a prevenção; a conservação das áreas que já estão em produção; e a recuperação das áreas degradadas.

Ainda de acordo com ele, é fundamental que haja monitoramento constante, ação integrada entre a fiscalização, a pesquisa, a extensão rural e a educação, além da elaboração de um plano nacional que atenda as diferentes necessidades do país.

Nesse sentido, atualmente ele coordena o projeto Construção Participativa do Plano Nacional de Gestão Sustentável do Solo e da Água.  “A ideia é que a gente possa traçar estratégias e metas e formas de fazer acontecer para que todos esses desafios possam ser enfrentados nas diferentes regiões do Brasil”.

Confira a seguir a entrevista completa.

Resumidamente, qual a importância do solo para a agricultura? 

O solo é a base de produção agrícola. O solo tem uma função importantíssima para a agricultura porque é dali que a planta extrai a água, nutrientes e também se fixa para poder se desenvolver.

O solo sustenta a vida, permite que as plantas desenvolvam seu processo de fotossíntese, com isso desenvolvam e produzam diferentes produtos agropecuários, florestais etc.

Sem o solo seria praticamente impossível produzir alimentos com o modelo que a gente tem de desenvolvimento atual. Seria impossível suprir a população, sem manter os solos férteis ou até mesmo sem melhorar os solos que não tem tanta fertilidade natural.

Então é um elemento fundamental que a gente tem que tratar com muito cuidado porque o solo não é um recurso natural renovável, pelo menos não nossa escala de tempo de vida. Ele demora centenas, milhares de anos para se formar.

 

Na sua opinião, mudou a percepção dos produtores em relação ao solo, no sentido de fazer um melhor manejo e aplicar tecnologias? 

Eu diria que isso no Brasil ainda é bastante variado. Você tem agricultores com alto nível tecnológico que já enxergam isso naturalmente, essa necessidade de evitar que o solo se degrade, que a erosão avance sobre as terras e até mesmo aplicar práticas adequadas.

Muitos agricultores já têm essa visão da conservação do solo, do manejo conservacionista. Mas isso depende muito da região do país, onde a tecnologia já está mais acessível. Os próprios insumos também estão mais acessíveis ou não. E do perfil do agricultor, do nível tecnológico, até mesmo nível de conhecimento.

Porque o mais difícil são as mudanças. É realmente difícil você convencer uma pessoa que adota um manejo tradicional, mas com técnicas muitas vezes ultrapassadas, erradas, e fazer com ele faça essa transição. Muitas vezes ele já está em um sistema de baixa produtividade, ou seja, ele se encontra descapitalizado. Então é muito difícil essa etapa da transição.

Apesar de a gente ter incentivo de créditos agrícolas para a aplicação de práticas conservacionistas, como Plano ABC+, por exemplo. Mesmo assim a gente precisa de investimentos, principalmente para o pequeno agricultor, aquele que está descapitalizado.

 

Quais os principais desafios para a conservação do solo atualmente?

A gente pode organizar esses desafios em três eixos estratégicos. O primeiro eu chamo de prevenção, que eu diria que o desafio mais barato, porque ao em vez de você deixar que a sua terra se degrade, você pode agir de uma forma mais planejada, inclusive, planejamento melhor o uso da terra. Não só a indicação das culturas, mas das práticas de manejo que vão ser adotadas em cada área.

E nessa direção, eu, aqui pela Embrapa, coordeno atualmente um projeto denominado Construção Participativa do Plano Nacional de Gestão Sustentável do Solo e da Água. Nós estamos nesse projeto desde a época da pandemia e a ideia é que a gente possa com esse projeto, ouvindo as opiniões, e as experiências das diferentes regiões do país, que a gente possa traçar estratégias e metas e formas de fazer acontecer para que todos esses desafios relacionados à conservação do solo possam ser enfrentados nas diferentes regiões do Brasil.

O segundo ponto que a gente quer abordar dentro dessa construção do plano é a própria conservação das áreas que estão em produção, ou seja, é um olhar para as áreas que se encontram em produção agropecuária.

Muitas vezes com boa produtividade, mas faltando alguns ajustes em termos de práticas mais sustentáveis. Práticas que possam reduzir a aplicação de agrotóxicos, por exemplo, que possam aumentar a biodiversidade de plantas, aumentar o sequestro de carbono, entre outros serviços ambientais.

E o outro eixo estratégico é com relação às áreas que já estão degradadas. Existe um passivo, a gente tem realmente áreas que estão degradadas, com baixo de nível de produção. Então é preciso desenvolver e, principalmente, aplicar tecnologias para recuperar essas áreas. Seja para a agricultura sustentável, seja para recuperação ecológica de áreas que são de grande importância para a manutenção dos recursos hídricos, por exemplo.

 

Na sua opinião, a análise de solo pode ser vista como uma das novas fronteiras para a elevação da produção agrícola?

Eu diria que ela é um elemento fundamental para que a gente garanta o bom uso desse recurso. É uma ferramenta desenvolvida há muito tempo e, claro, vem sendo adaptada a novos métodos de análises, também de amostragem de solo, e é fundamental que a gente realmente divulgue a importância desse tipo de análise, pois ela tem uma relação muito importante de custo-benefício.

Ainda existe uma carência muito grande. Infelizmente ainda não é algo usado de forma trivial por todos os agricultores. Em geral são os mais tenrificados que lançam mão dessa informação.

 

O que falta para difundir mais essa prática e quais ganhos isso pode trazer para o agro brasileiro? 

Faltam campanhas de divulgação da importância dessa análise. Ao mesmo tempo campanhas com incentivos, os próprios incentivos governamentais para que o produtor lance mão dessa análise.

Falta uma grande campanha de divulgação sobre a importância do solo, a importância do cuidado que a gente deve ter com o solo de uma forma geral, e a importância da análise de solo como uma ferramenta fundamental para a gente possa planejar melhor principalmente a adubação das culturas e também o uso dos insumos de forma mais eficiente.

Muitas vezes o agricultor está jogando dinheiro fora quando faz a adubação sem a análise de solo, as vezes colocando insumos que o solo não necessita ou de forma inadequada. Então falta divulgação e também transferência de tecnologia e assistência técnica.

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