Três mulheres e um legado

A força feminina por trás da história da Solocria

Três mulheres e um legado

Em meio a papéis, amostras de solo e anotações técnicas, uma história de coragem e afeto floresceu. Quando Maria Sérgia Rocha de Andrade decidiu abrir um laboratório agropecuário, não imaginava que estava plantando, junto com o então marido, Orlando Cavalcante de Castro, e o irmão, José Coelho da Rocha Neto, as sementes de um legado familiar que atravessaria décadas — e que, um dia, germinaria nas mãos das próprias filhas.

A Solocria nasceu em 1988, em Goiânia (GO), com poucos recursos, muita fé e o espírito empreendedor de uma jovem mulher que conciliava maternidade com a gestão de um novo negócio. Aos 25 anos, Maria Sérgia se dividia entre o balcão do atendimento, o setor financeiro e as análises no laboratório. Tudo isso com a filha Luciana ainda pequena, acompanhando de perto a rotina da mãe.

Quase quatro décadas depois, Luciana e a irmã Rosana comandam a empresa com firmeza, sensibilidade e o mesmo compromisso de quem ajudou a erguer cada tijolo daquela história. As duas representam uma nova geração de mulheres no agro, que alia conhecimento técnico, visão de futuro e respeito por tudo que foi construído antes.

O orgulho desse caminho ficou ainda mais evidente em março, quando Rosana foi homenageada na Assembleia Legislativa de Goiás por sua trajetória no agronegócio. Um reconhecimento que celebra não apenas uma carreira, mas a força coletiva de todas as mulheres que fazem o agro acontecer — dentro e fora dos holofotes.

O legado que atravessa gerações

Luciana cresceu acompanhando o dia a dia da mãe no laboratório. E Rosana, sua irmã, seguiu os passos dela na área das ciências agrárias. Hoje, as duas dividem a liderança da Solocria. Rosana, bióloga e engenheira agrônoma, destaca a importância de estar ao lado da irmã: “Tem desafios, porque a gente pensa diferente em muitas coisas, mas confiamos muito uma na outra. Isso fortalece tanto a empresa quanto o nosso laço familiar.”

Apesar de o mercado ainda ter resistência à presença feminina, Rosana sente que há avanços importantes. “As mulheres são muito boas no que fazem profissionalmente, eu acho que elas são até melhores do que os homens, em muitos aspectos”, reforça.

Para ela, a homenagem que recebeu em março, da Assembleia Legislativa de Goiás por sua trajetória no agro, foi um momento simbólico que reforça o reconhecimento de todas as mulheres que atuam no campo.

A gente olha muito para o caseiro, para o peão, mas esquece que há uma força por trás, que é a mulher. Se não fosse ela, muitos nem estariam lá”, defende. Para Rosana, o evento foi importante não só pela homenagem pessoal, mas por dar visibilidade a todas as mulheres do agro, independentemente de formação ou cargo.

Foi muito bom, tanto para as que não têm formação nenhuma, tanto para as que têm pós-doutorado, são todas importantes, cada uma tem sua importância e a gente não pode descartar nenhuma delas”, disse.

Luciana também sente o peso e o orgulho da responsabilidade que carrega. “A gente sabe que muitas vidas dependem do bom andamento da empresa. Mostrar que damos o nosso melhor é dizer que o esforço dos que vieram antes não foi em vão.” Para ela, o sucesso da Solocria é fruto da união, da ética e da fé que sempre guiaram a família.

Tradição que se renova a cada geração

Luciana cresceu vendo a mãe se desdobrar em múltiplas funções na empresa e em casa. Lembra de Maria Sérgia como uma verdadeira “mãezona” também para a equipe da Solocria, sempre passando ensinamentos e mantendo a empresa funcionando com dedicação e zelo. “Ela sempre buscou ser uma excelente mãe também, preocupada com o nosso bem-estar, educação, saúde e conforto”, conta.

Apesar de ter trilhado inicialmente um caminho bem diferente, com formação em Letras e mestrado em Linguística, Luciana acabou sendo chamada pelo pai para ajudar no laboratório durante um período de greve universitária. A ideia era algo temporário. Mas o envolvimento cresceu. “Comecei meio perdida, mas fui pegando gosto, e o conflito entre seguir na vida acadêmica ou me dedicar à empresa foi dando lugar ao entusiasmo por estar ali.”

A transição aconteceu com apoio e compreensão dos pais, que sempre respeitaram as decisões das filhas. Isso permitiu que Luciana encontrasse seu próprio caminho na gestão da empresa, sem rupturas. “Foi tudo muito gradual e conduzido sem conflitos. Acho que isso fez toda a diferença”, reflete.

Hoje, ela e Rosana dividem a liderança com equilíbrio. Rosana trouxe sua bagagem da biologia e agronomia. Luciana, da área de letras, agregou organização, visão estratégica e uma escuta atenta. Juntas, mantêm os princípios da Solocria — o compromisso com a qualidade e o atendimento humanizado — enquanto investem em modernização, tecnologia e novos mercados.

Fé, respeito e visão de futuro

Para Maria Sérgia, ver as filhas no comando da Solocria é motivo de profunda emoção. “É muito gratificante ver pessoas que você ama infinitamente continuar seu legado. E com o mesmo amor e dedicação que moldaram os passos dos fundadores e antecessores.” Ela admite, entre risos, que ainda dá seus palpites mesmo quando as filhas não pedem conselhos. Mas reconhece com orgulho a responsabilidade e o carinho que ambas colocam na gestão da empresa.

Os ensinamentos da matriarca continuam presentes. “Minha mãe me ensinou a ter respeito por todos, valorizar a ética, agir com empatia, mas também a observar muito antes de tomar decisões”, conta Luciana.

A fé também é uma marca registrada da família. Esse olhar espiritual acompanha o dia a dia da empresa, especialmente nos momentos de incerteza. Para Rosana, além da fé, um dos maiores aprendizados com a mãe foi o de tentar resolver tudo de forma pacífica, sem agressividade, mas com firmeza. “Ela é uma mulher muito forte, enfrentou muitas coisas. E até hoje ensina a gente a buscar o equilíbrio.”

As três concordam que manter o legado da Solocria não é só uma questão de manter um negócio de pé — é sobre manter vivo um propósito que atravessa gerações. E, por isso, os planos para o futuro são ambiciosos, mas com os pés no chão.

Novas metas com raízes firmes no passado

Rosana e Luciana têm objetivos claros: manter a Solocria como referência em análises laboratoriais para o agro, ampliar o número de clientes, investir em tecnologia e capacitação constante da equipe. Querem acompanhar as transformações do setor, especialmente em temas como sustentabilidade, responsabilidade social e gestão moderna.

Enxergamos a Solocria como um organismo vivo. Não é só uma empresa, é um conjunto de histórias, pessoas, processos e aprendizados que precisam evoluir juntos”, explica Rosana. A meta é continuar crescendo, fazendo mais análises, atendendo mais produtores, mas sem perder o diferencial que sempre caracterizou a empresa: o cuidado com cada cliente e a valorização de cada profissional.

Luciana complementa: “Queremos estar sempre antenadas com as inovações, mas sem perder o que nos faz únicas. A Solocria é tradição e modernidade caminhando juntas.”

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