É preciso cuidar do pasto como uma lavoura

A análise de solo não é uma prática importante apenas na agricultura. Na pecuária, a técnica é essencial para otimizar a nutrição dos rebanhos e aumentar a produtividade

É preciso cuidar do pasto como uma lavoura Pecuária

Com grande peso na economia, a pecuária é uma das principais atividades do agronegócio nacional. No que se refere a carne bovina, o Brasil é o segundo maior produtor. Está atrás apenas dos Estados Unidos. Já no ranking de exportadores, o país está em 1º lugar, com relação comercial com 159 nações.

Além disso, a produção de leite, que alcança mais de 34 bilhões de litros por ano, está presente em todos os municípios brasileiros. De acordo com o último Censo Agropecuário, o Brasil possui 1,1 milhão de propriedades leiteiras.

A qualidade dos pastos é um fator determinante para o sucesso da pecuária, tanto de corte como de leite, e a análise de solo desempenha um papel fundamental nesse processo.

Com uma extensão territorial vasta e grande diversidade de tipos de solo, o Brasil apresenta desafios únicos para os pecuaristas que buscam maximizar a produtividade e a qualidade nutricional dos seus pastos.

Além disso, há um fator a mais para se considerar. Segundo a Embrapa, o país possui cerca de 28 milhões de hectares de pastagens degradadas com potencial para expansão agrícola, sendo que a região Centro-Oeste é onde se encontra a maior parte destas áreas, com cerca 14 milhões de hectares.

“Apesar de a maioria das nossas análises de solo particulares serem para a pecuária, nós sabemos que esse número é muito baixo em relação ao toda a área de pastagem degradada existente”, disse a bióloga e engenheira agrônoma Rosana Andrade Cavalcante de Castro, sócia proprietária da Solocria Laboratório Agropecuário.

Para ela,  é fundamental ampliar a prática entre os pecuaristas brasileiros, pois permite uma avaliação detalhada das características físicas e químicas do terreno, fornece informações essenciais sobre nutrientes disponíveis, pH do solo, capacidade de retenção de água, e presença de elementos tóxicos.

Este conhecimento é crucial para a tomada de decisões sobre a adubação e o manejo do solo e garante que as plantas forrageiras recebam os nutrientes necessários para um crescimento saudável e vigoroso.

“A análise de solo é importante para todas as culturas, mas para a pecuária em especial ela pode ajudar a garantir um capim de melhor qualidade, com maior potencial nutritivo, uma boa cobertura da área e uma maior lotação de animais por hectare”, explicou o engenheiro agrônomo Igor Canedo Cavalcante Castro, responsável técnico pelas análises de solo na Solocria.

Outro benefício é que a prática pode levar a um bom suprimento até mesmo em épocas com maior demanda e menor oferta de pasto (época seca).

Através da análise de solo, é possível focar nos pontos menos férteis de cada área e investir em insumos de boa qualidade para que a forrageira tenha um alto teor nutricional, e em quantidades adequadas para que todo o rebanho esteja bem nutrido.

“Por ser um investimento de baixo custo para o pecuarista é muito importante que seja feita, pois só traz benefícios”, complementou o engenheiro agrônomo.

Pastagens de alta qualidade, ricas em proteínas e outros nutrientes essenciais para a alimentação do gado, resultam em animais mais saudáveis, com melhores índices de ganho de peso e produtividade, impactando diretamente a rentabilidade da atividade pecuária.

Diversidade de solos

As diferenças entre os tipos de solo no Brasil são significativas e influenciam diretamente a escolha das espécies forrageiras e as estratégias de manejo. Em regiões com solos arenosos, por exemplo, a retenção de água é menor, exigindo práticas específicas de irrigação e adubação para manter a qualidade do pasto.

Já em solos argilosos, a compactação pode ser um problema, necessitando de técnicas de manejo que favoreçam a aeração e a infiltração de água.

Instituições como a Embrapa e universidades têm realizado estudos sobre as melhores práticas de manejo de solo para pastagens, destacando a importância da análise de solo regular como uma ferramenta indispensável para a sustentabilidade e a eficiência da pecuária.

Há ainda mais um aspecto fundamental a ser considerado: a sustentabilidade. “Nos dias atuais existe um certo “vilanismo” em relação a pecuária por causa da emissão de gás carbônico. Porém é importante esclarecer que com um manejo adequado é possível retirar grandes quantidades de CO2 e estocá-lo no solo na forma de raízes e cobertura vegetal”, disse Rosana Castro.

E ela destaca que “existem estudos que mostram que uma forrageira aliada a outros sistemas de produção e um gerenciamento de pastejo adequado, pode até mesmo ultrapassar o estoque de carbono originais do solo”.

“Uma das formas de se garantir esse estoque de carbono é através da análise de solo, pois com ela é possível fazer um bom manejo da terra assegurando raízes profundas e cobertura vegetal”, reforçou Igor.

Outros tipos de análises

É importante lembrar que, além da análise de solo, o pecuarista tem à disposição para o diagnóstico e manejo mais eficiente da pastagem, outros tipos de análises.

“Nós fazemos também análises de sal mineral e ração, que também são importantes para o pecuarista”, destacou Rosana.

Por meio da análise de sal mineral é possível conhecer (e conferir as garantias) quanto aos macro e micronutrientes que são oferecidos aos animais através do produto e avaliar a solubilidade desses elementos.

Já a análise da ração ou análise bromatológica, ainda pouco conhecida e utilizada pelos pecuaristas, tem por finalidade avaliar a qualidade dos alimentos oferecidos aos animais, analisando a composição química como matéria seca, proteína bruta, gorduras, fibras solúveis, cálcio e fósforo.

Fontes de pesquisa:

Embrapa Solos

Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Instituto Agronômico

 

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