A força invisível do enxofre: Como esse nutriente impulsiona a agricultura
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Um dos fundadores, seu Orlando Cavalcante de Castro conta como foram os primeiros anos da empresa e os desafios que a tornaram forte e resiliente
“O Brasil não é para amadores”, essa é uma frase popular que você já deve ter ouvido por aí. Por trás há muitos significados, bons e ruins. Mas, sobretudo, ela significa que nada se constrói nesta terra sem garra, comprometimento e dedicação.
Esses são alguns valores que ajudaram a escrever a história da Solocria, uma empresa que cresceu junto com o país, o agronegócio e a valorização e aperfeiçoamento da análise de solo em uma das nações que mais produz alimentos, fibras e energia para o mundo.
A prática passou a ser adotada pelo Brasil apenas em 1960, ou seja, a pouco mais de 60 anos. Investir na área por aqui era um grande desafio, afinal a técnica era recente e pouco adotada pelos produtores brasileiros. Apesar disso, quase três décadas depois, em 31 de maio de 1988, nascia a Solocria Laboratório Agropecuário.
“Naquela época a agricultura não era tão tecnificada. O pessoal não levava muito em consideração a análise de solo. E a análise que existia era muito simples, muito básica, não tinha muitos dados que nos embasassem para tomar uma decisão mais concreta”, lembra seu Orlando Cavalcante de Castro, um dos fundadores da empresa, criada junto de Maria Sérgia Rocha de Andrade, e José Coelho da Rocha Neto, farmacêutica bioquímica e técnico agrícola.
Não bastasse esse cenário, ainda havia todo contexto político e econômico do país. O Brasil vivia o seu primeiro governo civil sob o comando de José Sarney, após 20 anos de regime militar. Eram anos de transição e, principalmente, muita instabilidade. Foram vários planos econômicos frustrados até o país conquistar a estabilidade com o plano real, a partir de julho de 1994.
“A verdade é que eu sinto que foi quase um milagre a nossa sobrevivência. Teve muita instabilidade. Algumas pessoas tentaram abrir negócios e não conseguiram, alguns sucumbiram”, conta seu Orlando.
Formado em agronomia poucos anos antes de apostar no empreendimento, ele mesmo enfrentou o desemprego mais de uma vez durante esse período turbulento.
Foi em um desses momentos que o seu pai, o senhor Orlando Ferreira de Castro, sugeriu a criação da empresa, afinal, experiência e conhecimento sobre a área eles já tinham. Os três futuros sócios haviam trabalhado em um laboratório de análise de solo, em Goiânia (GO).
“O meu pai chegou pra gente e disse ‘por que vocês não montam um para vocês?’. A partir daí a ideia nasceu e nós começamos a comprar os equipamentos”.
Aliás, a ajuda do pai veio além das ideias e dos conselhos. Ele sempre apoiou financeiramente também. “Ele foi um “pé de boi”, eu sempre vou reconhecer isso. Também teve uma tia minha que nos ajudou financeiramente”.
Pé de boi, para quem não sabe, é uma expressão que serve para definir alguém empenhado em uma ideia, apegado ao dever, ao trabalho e que não falta, exatamente como pai do seu Orlando sempre foi, presente.
As custas de muita economia e dedicação, o sonho saiu do papel, e a Solocria começou a funcionar ainda com poucos equipamentos em um barracão de 40 m², construído no terreno que era do pai do seu Orlando e da tia mencionada por ele.
Felizmente em pouco tempo a demanda se mostrou forte e no primeiro ano já foram realizadas 1.830 análises de solo. Nos anos seguintes o volume de trabalho seguiu aumentando e houve a necessidade de oferecer novos serviços, como a análise de corretivos, fertilizantes, foliar, entre outras.
Nesta época, o espaço se tornou pequeno e passou a limitar a produtividade da empresa. Por isso, foi construída uma nova sede, na avenida Goiás Norte, em Goiânia (GO), para onde Solocria se mudou em 1993 e permanece até hoje.
Uma curiosidade dessa fase é que a linha telefônica da empresa, conquistada com muito sacrifício, continuou no endereço antigo por mais um ano até ser possível a transferência. Ficava uma secretária lá só para receber os pedidos via telefone. Nesta época, ter uma linha telefônica era extremamente caro e transferir era oneroso e demorado também.
O ponto de virada
A partir de 1994, o Banco do Brasil passou a exigir a análise de solo em seus financiamentos agrícolas. A decisão acarretou uma corrida, sem precedentes, na busca dos serviços do laboratório e triplicou, no período de um mês, o volume de trabalho.
“Quando foi anunciada essa mudança, a gente já tinha feito umas dez mil análises de fertilidade. Eis que de repente todo mundo telefona e pede a física também. No prazo de uma semana nós tínhamos dez mil amostras para fazer análise física e todas as novas que chegavam, passaram a pedir análises química e física”.
Foi, sem dúvidas, um momento de virada na história da Solocria. Para atender a demanda, o laboratório passou a adotar, em caráter emergencial, um terceiro turno de trabalho.
Mas não foi só isso. Após realizar uma grande quantidade de testes bem criteriosos, seu Orlando conseguiu desenvolver um novo método que deu mais agilidade para a realização das análises. Ele conta que antigamente eles usavam um dispersor mecânico que fazia uma amostra a cada 20 minutos, o que equivalia a três amostras por hora.
Preocupado com a demora, seu Orlando e a equipe da Solocria na época tentaram utilizar outro aparelho para o preparo das amostras: um agitador circular horizontal. Nesse equipamento colocava-se cerca de 112 amostras que eram agitadas por quase três horas, o que possibilitou um aumento considerável no ritmo da preparação, e ainda mantendo a qualidade exigida para a análise.
“Levou dois, três meses para a gente conseguir colocar em dia, mas a gente conseguiu fazer de 200 a 300 amostras por dia em um prazo de dois meses”. Antes a empresa fazia de 10 a 20 amostras diárias.
O método deu tão certo, que chamou a atenção das Universidades. “Depois vieram até professores da Universidade Federal de Goiás e da Universidade Federal de Lavras para verificar como a gente estava conseguindo fazer. Então eu apresentei o procedimento. Virou tema de trabalho científico e de análise estatística. Foi um processo novo que é utilizado até hoje por vários laboratórios”, contou orgulhoso seu Orlando.
A partir daí a capacidade e a demanda da Solocria só cresceram. De 10 a 20 amostras diárias, a empresa processa hoje cerca de 660 por dia, isso falando apenas de análises de solo. São mais 50 diárias de calcário e 50 de outros tipos de análises.
“O que mudou basicamente foi a conscientização. Hoje o pessoal dá muito mais valor para a análise de solo do que dava antigamente. Em primeiro lugar, a análise não tinha tantos dados. Hoje a parte mínima dela já fornece bem mais dados do que fornecia. Hoje ninguém vai investir milhões sem ter nenhuma base, sem ter nenhum critério”, reforçou o fundador.
Atualmente aposentado, seu Orlando acompanha de longe o sucesso das filhas Luciana e Rosana Castro à frente do laboratório. “Se precisarem, a base está aqui disponível. Mas eu as deixo livres para que façam as próprias escolhas e colham os próprios aprendizados”.
Para ele, comemorar os 36 anos da empresa depois de tantos desafios é, sem dúvidas, uma grande conquista e motivo de orgulho. “A Solocria para mim é como se fosse um filho. Eu zelei do mesmo jeitinho que eu zelei dos meus filhos para manter esse nome, manter esse patrimônio”.
E como o pai zeloso que é, ele se distanciou do negócio, mas não muito. Segue atento e pronto a oferecer a mão e o conhecimento a qualquer momento a esse filho tão querido.
“O sentimento é de dever cumprido. Porém, se ainda tiver necessidade de opinar, momentos em que a minha experiência possa levar a um crescimento e uma evolução, eu ainda estou aí pelo menos para opinar. Já não tenho mais a disposição física, mas a disposição mental melhorou, evoluiu e está aí para ser aproveitada também”.
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